O pesquisador e professor brasileiro Alysson Muotri, da Faculdade de Medi- cina da Universidade da Califórnia, por exemplo, começou a estudar o CBD – ou canabidiol, um dos derivados extraídos da maconha – depois de ouvir relatos de famílias com filhos com transtorno do espectro autista (TEA) que utilizavam o óleo para bloquear a epilepsia, melho- rando quadros de autismo. “Os resulta- dos preliminares mostraram que existe possivelmente um benefício no autista severo em relação a autoagressões com o CBD purificado (sem THC, substância psicoativa da maconha) e em doses altas.”
Esses resultados devem ir ao encontro das observações já feitas pela farmacêuti- ca clínica carioca Bruna Fernanda Dias, 39, mãe de três crianças diagnosticadas com autismo severo: Mateus, 13, Rebe- ca, 7, e Isaque, 5. Ela lembra que, antes do uso do óleo de cannabis, as crianças não falavam, davam cabeçadas na parede e arrancavam os cabelos com as mãos. Em 2020, a farmacêutica se tornou a pri-
Maio de 2017
inclusão da cannabis sativa na lista Completa das denominações Comuns Brasileiras (dCB) sob a categoria de “planta medicinal”
meira pessoa no Brasil a conseguir um habeas corpus, sem a presença de um ad- vogado, para manter o cultivo de maco- nha em casa. Como farmacêutica, fez diversas pesquisas até chegar ao produto ideal para os filhos: “Desenvolvi uma técnica para preparar um óleo similar ao
cidinha (à dir) com o marido, fabio, e a filha, clárian
que importava e era o que funcionava melhor para eles. Com isso tenho um alto controle quanto às espécies ideais para cada filho”, conta Bruna.
“Meus filhos tinham diversas limita- ções. Hoje, vivem como crianças. Ma- teus sonha em fazer mestrado. Rebeca e Isaque não têm atrasos. Isso é transfor- mador”, diz a mãe, que, além de manter
um canal no YouTube, o Mamãe Bruna Cultiva, é presidente da Associação Hu- manitária Canábica do Brasil (AHC) e fundadora da clínica Farma Autismo.
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) lembra que, até o momento, o uso dos derivados da maconha para o mane- jo de sintomas de TEA se baseia em relatos de casos, como os de Bruna, ou em pequenos ensaios clínicos. Estudos mais aprofundados, como os de Muotri, ainda precisam ser feitos e validados. Outras evidências indicam que a cannabis pode ser usada para o alívio de dores, embora existam poucas pesquisas com crianças. Também não há estudos que mostrem os efeitos da planta a longo prazo. A falta dessas informações é resultado direto da proibição, que dificulta a pesquisa.